sábado, 26 de outubro de 2013

Deus na Unicamp

sábado, outubro 26, 2013

Deus fora da Unicamp

O arqueólogo Rodrigo Silva (à esq.), um dos palestrantes do evento cancelado, 
e o físico Leandro Tessler, que mobilizou acadêmicos contra o Fórum

Marcado para a quinta-feira 17, o “1° Fórum de Filosofia e Ciência das Origens”, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi cancelado na véspera, sob uma enxurrada de e-mails indignados de professores da própria instituição de ensino, uma das mais respeitadas do País. O motivo? Os cinco convidados a falar sobre filosofia e ciência eram nomes ligados ao “criacionismo científico”, que nega a teoria da evolução de Charles Darwin, mas, ainda assim, busca evidências científicas para desvendar o universo – sem contradizer a existência de Deus ou os preceitos da Bíblia. “Que façam isso numa igreja”, disse o professor de física Leandro Tessler. “É embaraçoso dar credibilidade a esse tipo de doutrina não científica.” Seu blog chamou a atenção de outros professores. A pró-reitoria, que havia dado aval ao evento, recuou. O físico americano Russell Humphreys, convidado internacional, já tinha passagem comprada. Veio então a resposta dos palestrantes.“Fomos boicotados por um grupo de professores ateus”, afirma o professor de arqueologia Rodrigo Silva, da Universidade Adventista de São Paulo (Unasp). “Hoje, quem discorda de Darwin é queimado na fogueira.”

Em nota oficial, a Unicamp justificou o cancelamento dizendo que “faltavam integrantes que pudessem debater o tema sob todos os pontos de vista”. Além de Silva e Humphreys, o fórum também teria a presença de um geólogo, um jornalista e um bioquímico, Marcos Eberlin, o único pertencente aos quadros da Universidade. Após a polêmica, Eberlin escreveu em um blog [criacionismo.com.br]: “É interessante notar que, em uma universidade pública, pessoas que se autointitulam ‘guardiões do saber’ cancelem palestras”. Outro que reclamou à reitoria, o professor de matemática Samuel Oliveira, negou a “orquestração” de um “lobby ateu” nos bastidores. “Criacionistas não têm formação para falar de ciência”, diz.

A “batalha da fé” em uma faculdade como a Unicamp, reconhecida pela qualidade da pesquisa científica, chama a atenção. Mas esse tipo de conflito não é novidade no meio acadêmico. Em 2008, depois de uma série de reclamações, a Universidade Federal de São Carlos (SP) cancelou uma palestra do físico Adauto Lourenço sobre “criacionismo e teoria da evolução”. Em 2007, o bioquímico americano Fazale Rana esteve na mesma Unicamp para falar de “design inteligente”, linha de pensamento que atribui a um criador a existência da vida na Terra. Professores conseguiram retirar o logo da universidade dos cartazes da palestra de Rana, mas não impediram a conferência.


Nota: Essa matéria publicada na IstoÉ é precisa quanto à descrição dos fatos. Faço apenas uma ressalva quanto ao subtítulo "Grupo de ateus impede que evento religioso [sic] com especialista dos EUA se realize na universidade e dificulta o debate acadêmico": o evento não era "religioso", conforme expliquei aqui. [MB]

sexta-feira, outubro 25, 2013

Modernidade real e imaginária

Olavo de Carvalho
A história das origens da modernidade está entremeada de mitos e lendas que os historiadores já demoliram faz tempo, mas que constituem ainda a substância do que se transmite a respeito nas escolas, na mídia e no show business. Tão forte é a impregnação dessas balelas na mente popular – incluída aí a classe dos cientistas profissionais sem especial cultura histórica –, que a simples iniciativa de informar ao público o estado atual das pesquisas historiográficas sobre aquele período é recebida com ataques apopléticos e ainda acusada de ser uma tentativa maligna de “desmoralizar a ciência” em nome de algum “fundamentalismo religioso”. Que essas reações sejam elas mesmas fundamentalistas no mais alto grau, é algo cuja evidência salta aos olhos e não necessita de nenhuma prova suplementar. A fé na “ciência” como fonte de toda autoridade é um dogma inabalável até mesmo entre os que se impregnaram de desconstrucionismo na universidade e teriam todas as razões para abandoná-la por completo. 

É que aí não se trata da ciência no sentido efetivo, seja do método experimental, seja, mais genericamente, da busca sistemática do conhecimento, e sim de um símbolo aglutinador destinado a infundir um senso de identidade e autoconfiança nos grupos sociais empenhados em espalhar a ideologia do anticristianismo militante. 

Desses grupos não se pode esperar nem um mínimo de racionalidade, mas sim o uso descarado de rotulagens pejorativas e, em casos extremos, o apelo à intervenção da autoridade policial.

Um daqueles mitos é que o advento da ciência moderna substituiu, ao puro raciocínio silogístico, o método indutivo. Joseph de Maistre demonstrou a completa absurdidade dessa alegação no seu Exame da Filosofia de Bacon, obra póstuma publicada em 1836, mas ninguém lhe prestou muita atenção, porque de Maistre, um esquisitão de marca, tinha a especial capacidade de desagradar aos maçons e progressistas por ser católico e aos católicos por ser maçom. 

David Hume, sem tocar na questão histórica, já havia feito picadinho das pretensões da indução, mas, como não colocava nada no lugar dela, foi recebido com desconversas piedosas da parte daqueles que, sem ela, se sentiam nus e desamparados. Foi só no século 20 que, juntas, a confiança na indução e o empenho de fazer dela a marca distintiva da ciência moderna foram sepultados de vez no melhor livro de Sir Karl Popper, A Lógica da Pesquisa Científica (1934), onde ele demonstrou que a indução nada vale sem um raciocínio silogístico prévio que a sustente, que portanto o método da ciência era ainda, no fundo, o bom e velho silogismo analítico de Aristóteles. 

Mas, popularmente, o mito continua vivo e passa bem, e não só se mostra duro de matar como alimenta e reforça, por contágio, a subsistência de outros tantos mitos irmãos e congêneres, que às vezes saltam as fronteiras da cultura de massas e penetram nas altas esferas do pensamento. 

No seu estudo sobre Bacon em On Modern Origins: Essays in Early Modern Philosophy (Lexington Books, 2004), Richard Kennington falha à sua habitual competência ao escrever esta monstruosidade: “A filosofia e a ciência pré-modernas... não produziram nenhuma tecnologia significativa. Ao contrário, os expoentes do racionalismo no século 17 – Bacon, Descartes, Hobbes e Locke – são unânimes em declarar que ele pretende dominar a natureza, e portanto criar uma ‘infinidade de artifícios’, para usar a expressão de Descartes, que vão aliviar a condição humana. Seguramente, pode-se dizer que a razão, na sua formulação pós-cartesiana, cumpriu sua promessa.”

A escolha desses pioneiros da tecnologia não poderia ter sido pior. John Locke não fez descoberta nenhuma nas ciências físicas, Hobbes criou uma série de teorias falsas que só são úteis para a comunidade dos humoristas, e Bacon, do qual se pode também dizer coisa idêntica, acabou demonstrando completa ignorância e incompreensão até mesmo da ciência existente no seu tempo, da qual ele fala com o desprezo característico do apedeuta presunçoso. 

Thomas Bodley, o fundador da célebre biblioteca de Oxford, escreveu-lhe a respeito: “Não posso compreender as vossas queixas. Jamais se viu mais ardor pelas ciências do que nos nossos dias. Censurais aos homens o negligenciar as experiências, e no globo inteiro não se fazem senão experiências.”

Dos quatro, só Descartes fez alguma coisa pelo progresso da tecnologia, sobretudo com a criação da geometria analítica, mas, no campo estrito das matemáticas, não se pode dizer que tenha superado espetacularmente seus antecessores Viète, Kepler, Galileu, Tycho de Brahe e tantos outros. 

É também um tanto ridículo depreciar a tecnologia pré-moderna diante das prodigiosas realizações da arquitetura gótica ou diante do fato de que até hoje a ciência do Egito antigo espanta e desnorteia os investigadores. Mais inexplicável ainda, nessa perspectiva, é que toda a fundamentação teórica da moderna economia capitalista já estivesse pronta entre os escolásticos, alegadamente os piores inimigos da modernidade, dois séculos antes que Adam Smith arranhasse as primeiras noções a respeito. 

A relação de causa-e-efeito entre a filosofia racionalista e o progresso tecnológico parece cada vez mais evanescente e subsiste antes como slogan de propaganda do que como realidade histórica. O mais curioso, para não dizer doentio, é que esse slogan seja brandido como arma até mesmo pelos mais ferozes antirracionalistas, como os discípulos de Nietzsche, de Paul Feyerabend ou de Jacques Derrida. Sepultaram a modernidade, mas não cessam de invocar o seu fantasma para assustar cristãos.

(Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 9 de outubro de 2013)

quinta-feira, outubro 24, 2013

Falam de complexidade irredutível mas não citam Behe

Michael Behe
“The existence of complex (multiple-step) genetic adaptations that are ‘irreducible’ (i.e., all partial combinations are less fit than the original genotype) is one of the longest standing problems in evolutionary biology. In standard genetics parlance, these adaptations require the crossing of a wide adaptive valley of deleterious intermediate stages. Here we demonstrate, using a simple model, that evolution can cross wide valleys to produce ‘irreducibly complex’ adaptations by making use of previously cryptic mutations. When revealed by an evolutionary capacitor, previously cryptic mutants have higher initial frequencies than do new mutations, bringing them closer to a valley-crossing saddle in allele frequency space. Moreover, simple combinatorics imply an enormous number of candidate combinations exist within available cryptic genetic variation. We model the dynamics of crossing of a wide adaptive valley after a capacitance event using both numerical simulations and analytical approximations. Although individual valley crossing events become less likely as valleys widen, by taking the combinatorics of genotype space into account, we see that revealing cryptic variation can cause the frequent evolution of complex adaptations. This finding also effectively dismantles ‘irreducible complexity’ as an argument against evolution by providing a general mechanism for crossing wide adaptive valleys.”

Subjects: Populations and Evolution (q-bio.PE) Cite as: arXiv:1310.6077 [q-bio.PE] (or arXiv:1310.6077v1 [q-bio.PE] for this version) Submission history. From: Meredith Trotter [view email] [v1] Tue, 22 Oct 2013 23:34:57 GMT (989kb). PDF grátis: ArXiv

Nota do blog Desafiando a Nomenklatura Científica: “Repare que esse artigo que afirma ter desmantelado o conceito de ‘complexidade irredutível’, como argumento contra a evolução gradualista darwinista, nenhuma vez cita Michael Behe. NOTA BENE: NENHUMA VEZ! A não ser pejorativamente - intelligent design lobby! Ora, se é lobby, como que você se propõe demonstrar cientificamente falsa a tese do Design Inteligente se você não cita um trabalho do seu oponente? Estranho esse comportamento dos autores. Todavia, nessa tentativa de falsificar a tese do Design Inteligente, em termos popperianos, esses autores estão confirmando que a tese do DI é uma tese científica, pois se sujeita à falsificação/falseamento. Mas não citar quem trouxe para o centro da discussão científica a complexidade irredutível de sistemas biológicos é CENSURA DITATORIAL da Nomenklatura que não vê, não ouve nem fala em Design Inteligente. Só quando lhe convém! Ah, adaptação não explica a macroevolução - um Australopithecus afarensis se transmutar em antropólogo amazonense... E, sem isso, Darwin continua blefando teoricamente... Torquemadas pós-modernos, chiques e perfumados a la Dawkins... Pobre ciência...”

Cientistas desconhecem origem evolucionária dos dinos


“As origens evolucionárias do dinossauro, por exemplo, ainda são um mistério. Pesquisadores estão tentando avidamente determinar como esses reis do período Cretáceo (que se estendeu por [supostos] 145 a 66 milhões de anos atrás) surgiram de uma linha de dinossauros pequeninos durante o período Jurássico (201 a 145 milhões de anos atrás [idem]).”

Biólogos se surpreendem com estrutura de formigueiro


Quando você avistou um formigueiro em um terreno, já teve a curiosidade de saber como ele é por dentro? Pois essa também era uma das dúvidas de alguns biólogos, que resolveram fazer uma experiência surpreendente a fim de descobrir como eram essas colônias subterrâneas. Primeiro, uma pesquisa de campo vasculhou onde teria um formigueiro para realizar os estudos sem prejudicar o ecossistema das formigas. Feito isso, eles partiram para a experiência. Para isso, eles encheram o local com bastante cimento (numa forma mais líquida) durante três dias. Foram cerca de 10 toneladas de cimento usadas para essa ação e ele desaparecia totalmente no decorrer do processo, tamanha era a extensão dos túneis do formigueiro.

Depois de um mês, eles começaram uma escavação e o que foi surgindo nas semanas seguintes era de um visual fantástico: uma megalópole das formigas com estruturas perfeitas e minuciosas formadas pelo cimento, que esculpiu a cidade-formigueiro. Tudo construído pela organização impressionante das formigas. Confira no vídeo acima.

Reviravolta na origem dos peixes (outra)

Mais uma hipótese que muda
Uma questão que tem recebido bastante atenção dos paleontólogos é a origem de um grupo de vertebrados que alcançou um sucesso muito grande ao longo de sua história evolutiva. Trata-se dos gnatostomados, animais que possuem as arcadas superior e inferior bem individualizadas. Esse interesse dos cientistas não é para menos. Basta olhar ao redor para encontrar um integrante dos Gnathostomata. Peixes – desde os tubarões e raias até os ósseos –, aves, anfíbios, lagartos e mamíferos, incluindo a nossa própria espécie (Homo sapiens), todos pertencemos a esse agrupamento. Pensando apenas nos peixes cartilaginosos e nos peixes ósseos, havia uma teoria que acabou ficando enraizada na mente dos pesquisadores. Acreditava-se [acreditava-se, mas falava-se como se fosse fato] que o ancestral desses gnatostomados deveria ter sido predominantemente cartilaginoso e ter tido um aspecto geral bem semelhante ao dos tubarões.

Com isso, veio a noção de que diversas características dos peixes ósseos, como a existência de placas ósseas na cabeça e nas arcadas dentárias, formariam um conjunto de novidades evolutivas. Devido à falta dessas características, os peixes cartilaginosos como o tubarão seriam formas muito primitivas. Mas uma descoberta feita por Min Zhu (Institute of Vertebrate Paleontology and Paleoanthropology, Pequim) e colaboradores publicada com destaque na Nature mostra que talvez não tenha sido bem assim.

Sempre que enfocamos um grupo muito diversificado e que possui uma história geológica bem antiga, acabamos esbarrando em um monte de termos e nomes de agrupamentos que não fazem parte do nosso cotidiano, nem mesmo o de muitos pesquisadores. O caso dos Gnathostomata é assim: há diversas espécies e grupos extintos que a maioria das pessoas nunca ouviu falar.

De uma forma simplificada, os gnatostomados são divididos em quatro grupos principais. Os mais conhecidos e que possuem representantes atuais são os Chondrichthyes, onde são classificados os tubarões, as raias e as quimeras, e os Osteichthyes, que são os peixes ósseos – além, é claro, dos tetrápodes (animais com quatro membros). Também fazem parte dos Gnathostomata os placodermos, que são peixes com uma armadura óssea bem típica, e os Acanthodii, peixes cujo crânio e as arcadas dentárias são formados por dezenas de pequenas placas ósseas.

Quanto aos peixes, as relações de parentesco tradicionais apresentavam os placodermos na base, seguidos pelos acantódeos, depois pelos tubarões e formas aparentadas, e, finalizando, pelos peixes ósseos. Dessa forma, segundo essa teoria, as placas dérmicas encontradas nos placodermos não seriam as mesmas presentes nos peixes ósseos. Assim, primeiro teriam surgido os placodermos com placas ósseas que vieram a ser perdidas nos acantódeos e novamente adquiridas pelos peixes ósseos de forma independente. Uma das conclusões dessa hipótese é que os peixes cartilaginosos seriam formas muito primitivas.

Já há alguns anos, Min Zhu e colegas trabalham coletando fósseis na região de Yunnan, na China, mais especificamente em depósitos da Formação Kuanti. Essas rochas representam um mar que existia na região há 419 milhões de anos [segundo a cronologia evolucionista], um tempo que chamamos de Siluriano. Essas camadas já revelaram muitos fósseis importantes, incluindo os mais antigos peixes ósseos, que também foram estudados pela equipe de Min Zhu em outro trabalho publicado na Nature.

Entre o material coletado estavam alguns exemplares que Min Zhu e colegas denominaram de Entelognathus primordialis. Após um primeiro olhar no crânio dessa espécie, se tem a nítida impressão de que se trata de um placodermo, com grandes placas ósseas formando uma armadura bem típica do grupo. Como o material é muito completo, o achado por si só já seria digno de destaque, particularmente quando se pensa na idade bem antiga das rochas [lembra-se do velho pensamento circular? Os peixes são antigos porque as rochas em que estão são antigas; e as rochas são antigas porque contêm esses peixes antigos].

Porém, a surpresa maior vem quando se observa a parte lateral da cabeça de Entelognathus. Ao contrário das grandes placas da arcada inferior típica dos placodermos, a nova espécie apresenta placas menores totalmente integradas com outros ossos da face lateral do crânio, bem parecidas com o que se observa nos peixes ósseos. Ou seja: o Entelognathus tinha a cabeça de um placodermo e as arcadas dentárias de um Osteichthyes, algo totalmente inesperado.

O impacto da descoberta sobre o entendimento da evolução dos peixes gnatostomados é tremendo. Primeiramente, a relação de parentesco estabelecida no estudo de Min Zhu e colegas demonstra que os acantódeos não estão mais na base da evolução dos peixes, mas sim proximamente relacionados aos tubarões e demais peixes cartilaginosos.

A posição basal de Entelognathus e o estabelecimento de que pelo menos algumas placas ósseas dos placodermos eram compartilhadas pelos Osteichthyes necessariamente leva à conclusão de que, na realidade, o ancestral dos gnatostomados não deveria ter um aspecto similar ao do tubarão, mas sim ter sido revestido por placas ósseas que foram perdidas ao longo do tempo nos peixes cartilaginosos. Ou seja, o tubarão passou de um animal mais basal e primitivo para uma forma bastante evoluída.

As consequências do novo achado ainda estão sendo “digeridas” pelos pesquisadores. Muita coisa na história evolutiva dos gnatostomados terá que ser revista. Mas uma coisa é certa: Entelognathus demonstra, mais uma vez, a importância do estudo dos fósseis para tentar entender a evolução e diversificação da vida no nosso planeta [ou seja, as evidências mudam, os golpes vêm, mas a teoria da evolução permanece em pé, sustentada por escoras epistêmicas insistentemente colocadas por seus defensores].

Outro ponto que merece destaque é a constatação de que a China continua surpreendendo o mundo científico com novas descobertas, desde as mais midiáticas, como os dinossauros com penas e outras partes de tecido mole excepcionalmente bem preservadas [o que sugere que foram sepultados de forma instantânea sob água e lama], até peixes e invertebrados de todos os tipos [que catástrofe os teria soterrado?]. Esses resultados figuram nas principais revistas científicas do mundo, como Nature e Science. [...]


Nota: Interessante notar como as hipóteses evolutivas vêm sendo alteradas pela pesquisa de campo, como aconteceu com os “homos” (confira) e agora com os peixes. E alguns ainda têm a pretensão de achar que sabem muito sobre essa estória... [MB]

quarta-feira, outubro 23, 2013

Enem: adventistas testemunham sobre o sábado

Álvaro e Daniel: fiéis a Deus
Para a maioria dos estudantes que se inscreveram para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, as provas começam às 13h, horário de Brasília. Mas para os de religiões que guardam o chamado “período sabático”, o horário é especial: a prova do próximo sábado (26) só poderá ser iniciada depois que o sol se pôr. O G1 conversou com o jovem Daniel Machado Pereira, de 18 anos, que presta o Enem pela terceira vez neste fim de semana. Ele contou que os sabatistas devem chegar aos locais de prova no mesmo horário dos demais candidatos, às 12h, e que em algumas salas os fiscais não permitem nem mesmo conversas. Também não é permitido levar a Bíblia. Para o estudante, a segurança durante o exame tem ficado cada vez mais rígida, mas que a espera não é nenhum sacrifício e não representa empecilho para um bom desempenho.

No Brasil, adventistas, judeus e batistas do sétimo dia são sabatistas. No momento da inscrição para o Enem, esses alunos devem especificar essa opção, que vem impressa no cartão de confirmação, para que fiquem isolados em salas especiais desde o momento que o exame começa em todo o Brasil até o início da noite. A espera é de aproximadamente seis horas. Além do sábado, a prova também acontece no domingo (27).

O pastor Paulo Falcão, que é administrador da Igreja Adventista do Sétimo Dia, explicou que todo adventista deve reservar o período do pôr do sol da sexta-feira até o pôr do sol do sábado para as atividades ligadas à religião. Por esse motivo, os candidatos do Enem não podem estudar ou fazer a prova durante esse período.

O estudante Daniel quer tentar o vestibular para o curso de Audiovisual, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Ele, que é da Igreja Adventista do Sétimo Dia, também contou que mesmo que a prova comece mais tarde para os [sabatistas], se o candidato chegar depois das 13h, não pode fazer a prova.

“Ficam umas 30 pessoas por sala, em média. Não podemos levar nada para ler, nem mesmo a Bíblia, e os celulares e relógios devem ficar dentro de uma sacolinha desde o momento que chegamos, como em qualquer lugar. Dependendo do fiscal, a gente pode conversar entre si, mas alguns não deixam nem isso. No primeiro Enem que fiz, quando caía a noite, ainda era possível fazer um culto de passagem para a nova semana, antes do início da prova, mas no ano passado as normas mudaram e já não era mais possível fazer”, lembrou.

Uma maneira que Daniel encontrou para se preparar para a longa espera foi na prática de esportes. “No primeiro Enem que fiz, cheguei a ficar um pouco cansado, mas notei que, no ano seguinte, quando já estava praticando esportes, me senti muito mais disposto para aquentar esse ‘teste de resistência’”, brincou.

O estudante Álvaro Soldani Gondim de Freitas, de 16 anos, está no 2º ano do ensino médio e vai fazer a prova apenas como teste. Ele contou que o sábado do adventista é um dia voltado para Deus e que, ao contrário do que muitos pensam, é um período com muitas atividades. “O sétimo dia foi quando Deus descansou, então reservamos para pensar em coisas divinas. A lei de Deus é imutável, esse é um dia sagrado. Geralmente vamos para a escola sabatina, estudamos, fazemos obras que não são voltadas para nós mesmos”, disse.

Para a estudante Lara Leite Pereira, de 17 anos, é um privilégio poder guardar o sétimo dia. “Temos um dia de descaso que muita gente não tem, muita gente é obrigada a trabalhar. No dia do Enem, vamos ficar confinados, mas essa espera não vai matar ninguém”, falou.

A jovem Bárbara Stowner dos Santos, de 17 anos, está no 3º ano do ensino médio e vai fazer o Enem pela segunda vez. Como adventista do sétimo dia, ela explicou que já chegou a ouvir de muitas pessoas que eles “vivem de passado”. “Falam que seguimos o que está escrito no Antigo Testamento, e que isso tudo já mudou, mas uma passagem de Jesus na Bíblia diz que Ele não veio para mudar a lei e sim para cumpri-la”, disse.

Mesmo vivendo em um país essencialmente católico, os jovens contaram que não tiveram dúvidas em permanecer na religião em que nasceram. “Quando a gente escolheu ser adventista, já sabíamos de tudo o que iríamos passar. Jesus mesmo sofreu várias provações”, falou Álvaro.

Daniel ainda destacou que mesmo começando a prova mais tarde, os sabatistas não têm qualquer vantagem sobre os demais. “A honestidade dos adventistas, de acordo com os princípios escritos na Bíblia, sempre sobressai. Se o fiscal permitir que a gente converse, não vamos ficar falando dos assuntos da prova. Isso seria desonesto e até um pecado”, explicou.

A estudante Lara Pereira contou que na primeira vez que fez o exame nacional, em 2012, acabou dando um testemunho sobre sua religião a uma jovem que não era sabatista, mas que estava com o cartão de inscrição constando essa particularidade.

“Ela estava até revoltada com a espera que ela também teria que passar. A tia dela havia preenchido a inscrição errada. Resolvi usar esse tempo para passar meu testemunho para ela, expliquei o motivo de tudo de acordo com a minha igreja. No final, ela estava tão interessada que me disse que ia até procurar uma igreja adventista para saber um pouco mais, só não sei se ela fez isso mesmo”, falou.

O pastor Paulo Falcão explicou que a tradição que os adventistas e outras religiões sabatistas têm de guardar o sábado vem da própria Bíblia. “Na criação do mundo, após ter feito todas as coisas, Deus descansou nesse dia. O sábado foi feito para que o homem tivesse um tempo livre de todas as influências externas, e dedicasse ao descanso, realizando ações de auxílio ao próximo, e a meditação sobre o amor de Deus. Acreditamos e cumprimos os dez mandamentos e o 4º, localizado em Êxodo 20, diz: ‘Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.’ Mas não nos prendemos apenas ao Antigo Testamento da Bíblia, pois no evangelho de Lucas, por exemplo, lemos que o próprio Cristo tinha como costume ir à igreja aos sábados”, contou.

O pastor ainda frisou que está na Bíblia a explicação que sustenta a crença dos sabatistas de que após o pôr do sol de sábado já é domingo. “A Bíblia diz que o dia começa pela tarde. Em Gênesis 1, diz: ‘E Deus chamou à luz dia; e às trevas chamou noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro’”, explicou.

Sendo o Brasil um país de maioria católica, muitos não têm o costume de guardar o sábado. Mas o pastor esclareceu que a partir do momento que nossa Constituição garante liberdade religiosa, qualquer situação em que os sabatistas poderiam se sair prejudicados pode ser contornada. “As coisas foram mudando aos poucos. O Enem, por exemplo, oferece essa alternativa para as provas. Muitos concursos, vestibulares não são realizados aos sábados e sim aos domingos por conta disso. Mesmo as escolas e universidades fornecem meios alternativos aos sabatistas, a fim de suprir a ausência nas sextas à noite, quando já é sábado para nós. Na maioria das vezes, essa solução acontece através de uma boa conversa”, garantiu.

terça-feira, outubro 22, 2013

Autor de ficção fala de criacionismo mas escreve conto

Macroevolução é ficção
Está em andamento, aqui no Brasil, mais uma tentativa de dar um verniz de respeitabilidade científica ao velho criacionismo, a ideia de que os seres vivos da Terra não evoluíram de forma natural, mas foram magicamente criados pelo Deus judaico-cristão-islâmico. Nas redes sociais, volta e meia pipocam convites para eventos, em escolas e universidades, com palestrantes comprometidos com a tese. Para evitar confronto direto, no caso de instituições públicas, com as leis que proíbem o uso de recursos do Estado para a promoção de ideias religiosas – e, também, para mais facilmente seduzir os incautos – os organizadores costumam evitar menções explícitas ao criacionismo, a Deus ou à religião em seu material de divulgação, mas as entrelinhas sempre revelam o verdadeiro objetivo: promover o ideário criacionista como uma “alternativa científica” à Teoria da Evolução.

Em termos espirituais, é claro que cada um é livre para crer no que quiser. Mas quando ideias religiosas tentam se passar por ciência, um pouco de ceticismo vem a calhar. Em ciência, uma “teoria” é um conjunto articulado de explicações bem testadas que dá conta de uma ampla série de fenômenos. Por exemplo, a Teoria da Relatividade Geral explica coisas como o movimento dos planetas em torno do Sol e a expansão do universo.

No parágrafo acima, é importante dar ênfase especial à expressão “bem testadas”: toda teoria nasce como hipótese – uma proposta de explicação para algum fato conhecido – e se consolida à medida que permite entender coisas que, para as hipóteses concorrentes, são mistérios; e também à medida que faz previsões que se confirmam.

A Evolução das Espécies é um caso clássico de teoria bem consolidada: ela não só dá conta dos fatos tal como eram conhecidos no tempo de seus autores, Darwin e Wallace – por exemplo, a adaptação das espécies a seus ambientes – como ainda permitiu entender fenômenos sem explicação clara naquela época, como extinções. E previu, certeira, não só que a Terra deveria ser muito mais velha do que se imaginava no século 19, como também que todos os seres vivos têm um ancestral comum, algo magistralmente confirmado mais de cem anos depois, graças aos avanços da biologia molecular no século 20.

Em comparação, o criacionismo, quaisquer que sejam seus méritos como doutrina religiosa, funciona muito mal como hipótese científica: ou ele não prevê nada (afinal, supõe-se que Deus pode fazer o que quiser do jeito que quiser, enquanto que a ciência, para prever, pressupõe causas naturais amarradas por leis e limitações) ou só faz previsões fracassadas (como a de que a Terra teria surgido há poucos milhares de anos).

A vacuidade científica da tese criacionista leva seus cultores a atacar a evolução. É uma manobra típica de quem, sabendo que não tem nada a oferecer, tenta dar a impressão de que o adversário também é vazio, estabelecendo, assim, uma falsa equivalência.

Mas a evolução não é uma hipótese vazia: é uma teoria bem consolidada, que sobreviveu a inúmeros testes e que, se estivesse errada, teria sido desmentida, nos últimos 150 anos, pela geologia, pelo registro fóssil, pela biologia molecular. Só que não foi.

(Carlos Orsi, Galileu)

Nota: Carlos Orsi é conhecido entre os leitores de ficção científica (lembro-me dele dos tempos da Isaac Asimov Magazine) e contos de terror. Os anos se passaram e, pelo jeito, ele continua ligado à ficção – o texto acima parece exatamente isto: uma peça de ficção científica. É impressionante como, em tão poucos parágrafos, ele consegue escrever tantas impropriedades e reforçar estereótipos repetidos ad nauseam pelos evolucionistas mal informados. Vamos por partes:

1. Dizer que o Universo e a vida teriam surgido de forma “natural” (informação a partir do nada, vida da não vida, matéria da ausência de matéria, etc.) não equivale a dizer que tudo surgiu de forma “mágica”? Sinceramente, não vejo diferença.

2. Orsi pinta um quadro sombrio (ao estilo “terror”) dos criacionistas, como “agentes obscuros” defensores de ideias medievais e que procuram se infiltrar aqui e ali para disseminar suas crendices e fazer discípulos. Sinceramente, não me vejo dessa maneira (será que sou tão míope a ponto de não perceber?). Orsi caricaturiza os criacionistas e, mesmo que um ou outro por aí seja meio “doido” (e “doidos” há em todos os lugares, sob todas as “bandeiras”), ele erra ao tomar o todo pela parte. Os criacionistas que eu conheço e com os quais convivo são amantes da ciência, do conhecimento e da verdade. Tudo o que querem é ser respeitados, não a despeito de suas crenças, mas exatamente porque creem de forma racional e razoável, e essa sua subjetividade não os impede de fazer boa ciência, muito pelo contrário, os motiva – como aconteceu com os “pais da ciência” Newton, Galileu, Copérnico e outros.

3. Os criacionistas não estão preocupados em “promover o ideário criacionista como uma ‘alternativa científica’ à Teoria da Evolução”. Isso não existe. Já disse aqui e repito: a Sociedade Criacionista Brasileira não defende que se ensine criacionismo nas escolas públicas. Por quê? Porque dificilmente se poderiam conseguir professores capacitados a expor devidamente (e equilibradamente) as ideias dos dois modelos, e porque o criacionismo é um modelo científico-teológico (se posso dizer assim), portanto, não adequado para ser ensinado em escolas laicas. O que se deseja é que o evolucionismo seja ensinado de forma crítica e não como uma verdade incontestável, como vem sendo apresentado a alunos incapazes ainda de enxergar a realidade por si mesmos.

4. Orsi diz que, “quando ideias religiosas tentam se passar por ciência, um pouco de ceticismo vem a calhar”. Um pouco de ceticismo sempre vem a calhar, até mesmo – e principalmente – quando alguém tenta dizer que uma coisa é de um jeito que não é. Não conheço nenhum criacionista bem esclarecido que confunda ciência com “ideias religiosas”. Conheço, sim, muitos evolucionistas – como Orsi – que confundem ciência com cientificismo e com naturalismo filosófico. É com esse tipo de confusão que surgem as “peças de ficção científica”. O naturalismo é uma cosmovisão que não pode ser submetida ao método científico, no entanto, os evolucionistas (especialmente os ateus) a priori a abraçam avidamente como se fosse a única “explicação” possível para a origem de tudo.

5. O ficcionista explica que teoria “é um conjunto articulado de explicações bem testadas que dá conta de uma ampla série de fenômenos”, e então menciona a Teoria da Relatividade Geral (curiosamente, ele não mencionou a gravidade, como é mais comum), que explica coisas como o movimento dos planetas em torno do Sol. Ok, mas o que isso tem a ver com o conceito de macroevolução? O movimento dos planetas nós podemos observar todos os dias, in loco (pois moramos no sistema solar), mas e a origem da vida? E o processo de “transformação” de uma barbatana em pata ou do surgimento de novos órgãos complexos, cujo processo nem consta no registro fóssil? Comparar a Relatividade Geral e a gravidade com a macroevolução é um absurdo total; é mais “forçação de barra” do que muitas ficções por aí.

6. Num único parágrafo, Orsi transita de um conceito a outro, numa confusão típica entre evolucionistas (por má intenção ou desconhecimento?). Ele diz que “a Evolução das Espécies é um caso clássico de teoria bem consolidada”, depois menciona “a adaptação das espécies a seus ambientes” e o “fato” de “que todos os seres vivos têm um ancestral comum”. É mais uma evidência de que o termo “evolução” pode ser usado a torto e a direito, dependendo do interesse de seu usuário. Quando fala em “evolução das espécies”, Orsi não esclarece a que está se referindo. Depois ele muda o discurso para tratar especificamente da diversificação de baixo nível (chamada por alguns de “microevolução”), sim, porque “adaptação das espécies a seus ambientes” se trata exatamente disso. E todo mundo sabe (ou deveria saber, se os evolucionistas deixassem) que adaptações (assim como mutações) não “criam” informação necessária para que houvesse o surgimento de novos planos corporais e/ou órgãos complexos. Adaptações são apenas isto: adaptações. Em seguida, o ficcionista muda de novo o discurso para transformar a palavra “evolução” em macroevolução, ao dizer que “todos os seres vivos têm um ancestral comum”. Cadê as provas disso? Aliás, novas pesquisas parecem mostrar que a realidade é bem outra (confira).

7. Ao contrário do que Orsi quer, “os avanços da biologia molecular no século 20” têm é mostrado que a ideia de complexidade irredutível de Behe é fato, e que se Darwin dispusesse dos equipamentos (como o microscópio) e dos conhecimentos de hoje, talvez a história de sua teoria fosse outra.

8. Orsi diz que o criacionismo ou não prevê nada ou só faz previsões fracassadas. Falso. Os criacionistas previram que o registro fóssil apresentaria lacunas e não transições graduais às milhares. Confirmado. Previram que os organismos do passado seriam maiores, mais fortes e complexos que seus descendentes. Confirmado. Previram que quanto mais a ciência avançasse, mais se perceberia que a complexidade da vida aponta para um design inteligente. Confirmado (a menos que se neguem os fatos). Previram que seriam encontradas evidências de uma grande catástrofe hídrica que extinguiu quase que completamente as formas de vida do mundo de então (incluindo aí os dinossauros). Confirmado. Etc. Etc.

9. Muito mais poderia ser dito sobre esse “conto” de Orsi, mas concluo com esta pérola dele: “A vacuidade científica da tese criacionista leva seus cultores a atacar a evolução.” Negativo. O que leva a maioria dos criacionistas (pelo menos os que eu conheço) a “atacar” a evolução é a doutrinação materialista que procura forçar os estudantes a aceitar um pacote ideológico (filosófico) como se fosse ciência empírica. O que leva os criacionistas a “atacar” a evolução é o desejo de que se compreenda o que é ciência e o que é naturalismo filosófico; que se perceba que há um grupo de ateus tentando usar essa “teoria” como alavanca para mover Deus para o lado e defender sua descrença; que se evidencie o fato de que o evolucionismo se transformou numa verdadeira religião e que seus defensores são tão fanáticos quanto o estereótipo de criacionista que eles criaram.

De qualquer forma, é bom saber que a revista Galileu agora também publica contos de ficção científica travestidos de ciência. Não faltava mais nada mesmo... [MB]

Meu texto no OI: pontos obscuros da evolução

Em resposta ao meu artigo “Revista desconversa quando o assunto é evolução”, publicado no Observatório da Imprensa, o biólogo Adelino de Santo Júnior (que também é mestre em Ecologia pela USP), escreveu o texto “Alguns pontos sobre a evolução das espécies”. Vou deixar de lado os argumentos ad hominem que não levam a lugar algum e me deter na argumentação de Adelino. Já que ele apontou alguns “pontos”, passo a seguir aos contrapontos, os quais agrupei em três grandes áreas, para simplificar a discussão: [Continue lendo e deixe seu comentário lá.]

segunda-feira, outubro 21, 2013

Adventista testemunha na revista Glamour

Sábado é um dia especial 
Alana Marques, 25 anos, advogada, cristã adventista: “Sou dessas pessoas fadadas a ter uma vida super-religiosa. Minha família é adventista, uma vertente do cristianismo protestante. Meus avós, meus pais e meus irmãos são da Igreja. Tenho até tios que são pastores. Então vocês podem imaginar que a educação religiosa sempre foi muito forte lá em casa. Quando fui para o Ensino Médio, meus pais me mandaram para um colégio interno adventista, uma tradição familiar. Me sentia em uma grande república. Imagina a festa? Várias meninas de 15 ou 16 anos realizando o sonho de morar com as amigas. Como eu vivia cercada de adventistas, fazia tudo por inércia, e foi só na faculdade que as diferenças passaram a ser uma questão para mim. Uma questão contornável, mas que por vezes pesava. Os adventistas não podem trabalhar, estudar, badalar do pôr do sol de sexta até o pôr do sol de sábado. Então, minhas amigas me chamavam para sair, beber, dançar, e eu tinha de lembrar a mim mesma dos meus ensinamentos. De resto, sou uma menina normal de 25 anos: trabalho, assisto à TV, ouço música, sou vaidosa. Mas sábado é especial, um dia para a gente se guardar.

Nunca senti preconceito, mas muita gente não entendia o fato de eu acreditar na teoria do criacionismo (e negar a evolução) e seguir a fundo essas normas. Minhas amigas diziam para eu pedir para o pastor autorização para sair. Só que nunca foi uma questão de permissão, e sim de crença. No trabalho, meus colegas sempre acharam que eu tinha privilégios por ser liberada sexta à tarde. Não estou nem aí: se cumpri meus deveres, azar de quem achar ruim.

Muita gente vê isso como uma restrição, mas sábado sempre foi meu dia preferido. Além de não ter de me sentir culpada por não estar estudando ou trabalhando, é o dia que passo com minha família. Vamos à igreja, almoçamos todos juntos... Como isso pode ser ruim?”

(Glamour)

Tessler impediria Margulis de palestrar na Unicamp

Cética quanto ao neodarwinismo
Lynn Margulis foi uma bióloga evolucionista de renome, membro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Ela não apoiava e criticava a teoria do Design Inteligente (DI). Em uma entrevista concedida à Discover Magazine, ela disse por que é cética da evolução explicada pelo neodarwinismo, e admitiu expressamente que muitas de suas críticas ao neodarwinismo são as mesmas feitas pelos proponentes do DI. Primeiro ela explica por que discorda da adequação explanatória da mutação e da seleção natural: “Esta é a questão que eu tenho com os neodarwinistas: eles ensinam que o que está produzindo a novidade é o acúmulo de mutações aleatórias no DNA, em uma direção estabelecida pela seleção natural. Se você quiser ovos maiores, você continua selecionando as galinhas que estão pondo os ovos maiores, e você consegue ovos cada vez maiores. Mas você também consegue galinhas com penas defeituosas e pernas bambas. A seleção natural elimina, e talvez mantenha, mas não cria... Os neodarwinistas dizem que novas espécies surgem quando ocorrem as mutações e elas modificam um organismo. Ensinaram-me diversas vezes que o acúmulo de mutações aleatórias resultava em mudança evolucionária – resultaria em novas espécies. Eu acreditava nisso até que procurei por evidência.”

Nesse raciocínio, quando questionada sobre os estudos famosos de evolução dos Grants sobre os tentilhões das ilhas Galápagos, ela declarou: “Eles viram muitas variações dentro de uma espécie, mudanças ao longo do tempo. Mas nunca descobriram quaisquer novas espécies – jamais.”

Quando questionada sobre “Que tipo de evidência a levou contra o neodarwinismo?”, ela respondeu que foi a falta de evidência de mudança gradual no registro fóssil: “Aquela que você gostaria de ver em um bom caso a favor da mudança gradual de uma espécie para outra no campo, no laboratório ou no registro fóssil – e preferivelmente em todos os três. O grande mistério de Darwin foi por que não havia nenhum registro antes de um ponto específico [datado em 542 milhões de anos atrás pelos pesquisadores modernos], e então subitamente no registro fóssil você tem quase que todos os principais tipos de animais. Os paleontólogos Niles Eldredge e Stephen Jay Gould pesquisaram lagos na África Oriental e nas ilhas do Caribe procurando as mudanças graduais de Darwin de uma espécie de trilobitas ou caramujos em outra espécie. O que eles acharam foi bastante variação alternante na população e depois – bang – uma nova espécie. Não há gradualismo no registro fóssil.”

Os críticos de Darwin são tolerados na academia?

Naquela entrevista, Margulis compartilhou algumas experiências pessoais sobre se ela foi intimidada por suas posições não darwinistas. Ela explica que “quem for abertamente crítico dos fundamentos de sua ciência é persona non grata. Eu sou crítica da biologia evolucionária que é baseada na genética de populações”.

Impressionante! Enquanto materialistas que desafiam o neodarwinismo aparentemente são considerados “persona non grata”, Margulis explica que os cientistas que continuam procurando explicações darwinistas rapidamente irão receber recursos e apoio, mesmo admitindo que o paradigma está colapsando: “Richard Lewontin, geneticista de populações, deu uma palestra aqui na Universidade de Massachusetts, Amherst, cerca de seis anos atrás, e ele a matematizou completamente – mudanças na população, mutação aleatória, seleção sexual, custo e benefício. No fim da palestra, ele disse: ‘Sabe de uma coisa, nós tentamos testar essas ideias no campo e no laboratório, e realmente não existem medidas que combinem com as quantidades das quais lhes falei.’ Isso simplesmente me deixou perplexa. Então eu disse: ‘Richard Lewontin, você é um grande palestrante em ter a coragem de dizer que isso não lhe levou a lugar nenhum. Mas então por que você continua a fazer esse trabalho?’ Ele olhou ao redor e disse: ‘É a única coisa que eu sei como fazer, e se eu não fizer, não recebo dinheiro para pesquisa.’” 

Trata-se de um homem honesto e uma resposta honesta...

1º Simpósio Baiano das Origens

Folha distorce fato de forma descarada


Deparei-me com esta manchete [acima] no site da Folha de S. Paulo. Me assustei, de verdade. Por favor, olhem bem o que e como está escrito! Quem clica na notícia é direcionado a este link. O leitor vai encontrar outro título: “Comissão de Feliciano aprova projeto que permite templo vetar gay”. Aaah! Quer dizer que existe um projeto! A situação já começa a mudar... No fim, a notícia informa que “o projeto quer evitar que religiosos sejam criminalizados caso se recusem a realizar casamentos homossexuais, batizados ou mesmo aceitar a presença dessas pessoas em templos religiosos”. Nada mais justo!

Desde quando um pastor deve ser obrigado a realizar um casamento? E que legitimidade um jornal tem em tentar punir uma igreja por suas liturgias? Aliás, jornal que nunca fez uma reportagem sobre as igrejas que oferecem sustento a mendigos e tratamento gratuito a dependentes químicos. Pelo contrário: quando a igreja evangélica brasileira é pautada, é de forma acusadora e depreciativa. E isso atinge a todos os cristãos – comungando ou não com a política de Feliciano.

Quanto à “presença” dos tais em templos, precisamos ser criteriosos. Se um casal homossexual visitar minha igreja, ele será recebido como qualquer outro. Mas se eles se beijarem no meio de um culto – coisa que já aconteceu há pouco tempo num culto em que Feliciano estava presente –, aí já são outros quinhentos.

Feliciano é só o “gancho” da notícia. Nem preciso falar em como sua figura é irrisória no mar de diferenças das igrejas brasileiras.

Repito: Quem é a Folha de S. Paulo para criminalizar e deturpar nossos valores ou até mesmo tentar interferir nas práticas de uma igreja? A maquiagem da notícia está aí pra todo mundo ver, mas quem vai parar pra pensar e fazer uma crítica ponderada a respeito?

É por essas outras que eu acredito que a Igreja já começa a passar por algum tipo de tribulação. Deus nos guarde.

quinta-feira, outubro 17, 2013

Descoberta pode reescrever “história evolutiva humana”

Nada de ancestrais: contemporâneos
E se em vez de serem todos de espécies diferentes, os diversos homens primitivos cujos fósseis têm sido encontrados ao longo dos anos em diversos locais – Homo habilisHomo rudolfensinsHomo erectus e outros – fossem todos membros de uma única e mesma espécie de humanos e as suas diferenças físicas apenas refletissem a variabilidade normal entre indivíduos dessa espécie? Os autores de um novo estudo comparativo de crânios fósseis humanos encontrados no Cáucaso, e publicado nesta sexta-feira na revista Science, afirmam que é precisamente isso que os seus resultados sugerem. A peça-chave do trabalho desenvolvido nos últimos oito anos por David Lordkipanidze, director do Museu Nacional da Geórgia, e uma equipe internacional de colegas, é um crânio – designado Crânio 5 – com quase 1,8 milhão de anos [segundo a cronologia evolucionista]. O seu maxilar inferior foi encontrado em 2000 na escavação arqueológica de Dmanisi (a uns 100 quilômetros de Tbilisi, a capital da Geórgia) – e o resto do seu rosto e cabeça em 2005.

“O Crânio 5 é um achado extraordinário”, explicou em coletica de imprensa telefônica a coautora Marcia Ponce de León, da Universidade de Zurique (Suíça). “É o crânio fóssil mais completo de um adulto do gênero Homo. Encontra-se num estado de conservação perfeito [...] e [a segunda peça] foi encontrada cinco anos depois do maxilar a menos de dois metros de distância [da primeira].”

Acontece que o Crânio 5 não era tudo o que os cientistas esperavam, visto o caráter maciço do maxilar previamente desenterrado. Estavam à espera de um crânio de grande tamanho, mas depararam-se, pelo contrário, com uma caixa craniana pequena por cima de um rosto grande, numa combinação de traços morfológicos nunca antes observada num homem primitivo [sic].

Também em Dmanisi foram encontrados, ao longo dos anos, mais quatro crânios (apenas um sem maxilar inferior), algumas ferramentas de pedra e ossos fossilizados de animais – achados que, segundo estudos anteriores, são vestígios deixados por um grupo de humanos que viveu no mesmo sítio ao mesmo tempo. “O tempo que demorou a formação geológica do local foi bastante breve, o que permite concluir que a sedimentação de todos os ossos [de homens primitivos] aconteceu simultaneamente”, explicou Lordkipanidze. “Dmanisi é como uma cápsula do tempo que preservou um ecossistema de 1,8 milhão de anos [idem].”

Os crânios de Dmanisi permitem realizar análises comparativas que até aqui não eram possíveis. E de fato, diante da descoberta do resto do Crânio 5 e da sua anatomia inédita, tornou-se necessário explicar as diferenças físicas patentes entre os cinco crânios humanos daquele sítio paleontológico, que fazem com que alguns deles sejam mais bem classificados como Homo habilis e outros como Homo erectus. Poderiam esses homens primitivos, que ao que tudo indica faziam parte da mesma comunidade, ter pertencido a várias espécies diferentes de humanos? “Sabíamos que vieram do mesmo local e do mesmo período geológico; podiam, portanto, representar uma única população de uma única espécie”, salientou Christoph Zollikofer, outro coautor, também da Universidade de Zurique.

Para determinar qual dessas duas possibilidades – uma ou várias espécies – era a mais provável e, em particular, se era possível que o nível de variação observado naqueles fósseis se verificasse no seio de uma única espécie, os cientistas recorreram a métodos de morfometria 3D computadorizada. Por outro lado, para garantir a compatibilidade dos novos resultados com estudos comparativos anteriores, também aplicaram métodos mais tradicionais de comparação de características morfológicas.

Conclusão: “Nossa análise estatística mostra que os padrões e a magnitude da variabilidade dos crânios de Dmanisi são semelhantes aos das populações de espécies modernas”, disse Zollikofer. “Embora os cinco indivíduos de Dmanisi sejam claramente diferentes uns dos outros, não são mais diferentes entre eles do que cinco humanos modernos ou cinco chimpanzés numa dada população.” Ou seja, “a diversidade no interior de uma espécie é a regra e não a exceção”. Os cientistas decidiram designar essa potencial única espécie pelo nome Homo erectus, por ser a mais bem documentada e consensual de todas as espécies de homens primitivos cujos fósseis se conhecem.

Evidência de simples diversificação, não "evolução"

Os novos resultados poderão ter implicações em termos da classificação das espécies de hominídeos que viviam na África e saíram de lá há cerca de dois milhões de anos [idem], espalhando-se pela Europa e Ásia, especulam os cientistas. “Há duas maneiras de interpretar a diversidade dos hominídeos fósseis”, explicou Zollikofer. “A primeira é que existiu apenas uma linhagem de homens primitivos; a segunda é que houve múltiplas linhagens coexistentes.”

“Se a caixa craniana e a face do Crânio 5 tivessem sido encontradas separadamente em locais diferentes da África, poderiam ter sido atribuídas a duas espécies diferentes”, acrescentou [admissão interessante]. Mas visto que os fósseis de Dmanisi provêm indubitavelmente do mesmo ponto no tempo e no espaço – e que parecem ter todos pertencido a uma única espécie de homens primitivos –, o mesmo poderá ter acontecido na África.

A conclusão não convence todo mundo. Enquanto um paleontólogo citado num artigo jornalístico (também publicado na Science, de autoria de Ann Gibbons) recusa liminarmente a ideia de que todos os fósseis africanos possam ter sido Homo erectus, outro é da opinião de que o Crânio 5 parece um Homo habilis. E um terceiro faz notar que a ideia está tendo o efeito de uma pequena bomba na comunidade dos especialistas.



Nota: Só para lembrar: os criacionistas vêm dizendo isso há anos, mas quem quis ouvir? Sempre dissemos que os “homos” são simplesmente humanos antigos com a natural variabilidade morfológica que existe entre seres humanos atuais (talvez alguns até com certas deformidades). Mas os evolucionistas, em sua ânsia por criar árvores evolutivas imaginárias, com base em fragmentos de ossos encontrados aqui e acolá, foram capazes de desenvolver toda uma história da “linhagem evolutiva humana” – que pode estar totalmente errada. Já imaginou quanto papel e quanta tinta foram gastos para divulgar a historinha anterior, que era tão "certa"? O que será feito dos livros didáticos, das enciclopédias e - pior - das cabeças que foram doutrinadas educadas com esse conteúdo até então tido como verdadeiro? 

O título dado à notícia pela Gazeta do Povo também é interessante: "Crânio de 1,8 milhão de anos sugere que homens vieram de uma única espécie." Isso também é óbvio para o criacionista: viemos de uma mesma espécie, de uma mesma linhagem, de um casal ancestral que viveu no Éden.

Será que em algum momento a hipotética sequência evolutiva do cavalo, por exemplo, reproduzida ad nauseam em livros e mais livros, será reavaliada também? Perceberão, como estão percebendo na história dos "homo", que se trata simplesmente de diversificação de baixo nível, adaptação (ou "microevolução", como dizem alguns), e não ancestralidade?

Fico imaginando quanto ainda pode ser revelado pela pá dos arqueólogos e dos paleontólogos. Os fatos que contradizem o modelo evolucionista só vão se acumulando. Resta saber quando o paradigma vai, finalmente, cair por terra. [MB]

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